quinta-feira, 20 de agosto de 2009

SARNEY E A DITADURA MILITAR: BAJULAÇÃO E MENTIRA

Por Haroldo Saboia

Sarney mente compulsivamente. Entre suas mentiras mais recorrentes destaca-se sua auto proclamada defesa de princípios democráticos naqueles anos de chumbos e, em especial, nos dias mais emblemáticos do terror: queda de João Goulart e edição do Ato Institucional, sem número, de abril de 64 e o “golpe no golpe” de 13 de dezembro de 1968, o AI-5.

Nesta quarta feira no Senado Federal, Sarney em seu discurso desfia um sem número de mentiras muitas delas já devidamente caracterizadas e registradas pela imprensa.

Sarney mente, por exemplo, quando afirma que: “Na semana depois do Golpe Militar, em um clima de grande temor, de grande apreensão dentro do Congresso, em que o caráter dos homens é posto à prova, quatro dias depois, fui à tribuna da Câmara, para defender o mandato dos Deputados cassados:

‘José Sarney lidera a campanha contra a cassação de Deputados’ – quatro dias depois de 31 de março. Havia uma inquietação muito grande, temores de todos os lados, mas eu fui para a tribuna do Congresso, da Câmara dos Deputados, para defender contra a cassação dos Deputados e tive a oportunidade de dizer, sob aplausos da Bancada udenista, em meu discurso:

‘Aqui não se cassa ninguém fora dos termos previstos na Constituição e na Lei Magna, que deve ser respeitada a todo custo. ’Não era fácil naquele tempo se tomar uma posição dessa natureza.”

Quatro dias depois de 31 de março foi à tribuna da Câmara para defender o mandato dos deputados cassados?

Mentira. Primeiro porque não teria jamais coragem para tal atitude. Segundo, pelo fato que quatro dias depois do golpe não havia nem deputado nem ninguém cassado. A primeira lista de cassações de mandatos e de direitos políticos foi no dia 9 de abril de l964. Não quatro, mas nove dias depois do golpe. E, além do mais, divulgada no dia seguinte, 10.

Quem tiver dúvida pode consultar o Banco de Dados da Folha de São Paulo, Cronologia do Golpe de 1964. Lá encontramos:

“9. abr.64 — EDITADO O ATO INSTITUCIONAL N.º 1 (AI-1), QUE PERMITE A CASSAÇÃO DE MANDATOS E A SUSPENSÃO DE DIREITOS POLÍTICOS.

10. abr.64 — É DIVULGADA A PRIMEIRA LISTA DE CASSADOS PELO AI-1. ENTRE OS 102 NOMES ESTÃO O DE JOÃO GOULART, JÂNIO QUADROS, LUÍS CARLOS PRESTES, LEONEL BRIZOLA E CELSO FURTADO, ASSIM COMO 29 LÍDERES SINDICAIS E ALGUNS OFICIAS DAS FORÇAS ARMADAS”.

Sarney mente ainda quando diz que foi à Tribuna (da Câmara dos Deputados) e “sob os aplausos da bancada udenista” afirmara que ali “não se cassava ninguém...”. Balela.
A História é outra. E não será uma figura minúscula como o velho coronel Sarney que haverá de apagar o papel dos udenistas como coadjuvantes do golpe militar.

Maria Victoria Benevides, historiadora e fundadora do Partido dos Trabalhadores, em seu livro “A UDN E O UDENISMO: ambigüidades do liberalismo brasileiro (1945-1965)” narra a posição deste partido por ocasião do golpe de 64.

“Em sua primeira nota oficial logo após a queda de Goulart, a UDN se congratula com as Forças Armadas pela “vitória contra a ameaça da ditadura comunista e contra a subversão dos ideais cristãos”, propondo-se a continuar “na luta contra a inflação e o câncer da corrupção e do empreguismo” (3/4/64, Arquivo UDN). Na ação das Forças Armadas a UDN apontava a realização de seu próprio programa, enraizado nas antigas teses anticomunistas e moralistas. Nesse sentido, a UDN apoiaria todas as “medidas revolucionárias” formalizadas pelo Ato Institucional...”

Como registra a historiadora, a UDN estava ocupada era aplaudir o golpe militar e não um discurso que Sarney nunca pronunciou.

Na realidade, figura menor Sarney tem o vezo de criar situações imaginárias com o intuito de realçar seu papel na História construída - na sua visão - pela ação de indivíduos e nunca por processos coletivos, pelos movimentos sociais. As conquistas do povo brasileiro consubstanciadas na Constituição de 1988 são apresentadas por Sarney como magnanimidades suas enquanto presidente sabe lá Deus como, da República.

Outra invencionice gabola tão reprisada por Sarney é que foi o “único governador do país a protesta contra o Ato-5”. editado em 13 de dezembro de 1968.

Mais uma mentira. Na realidade, a nota de Sarney data de 17 de dezembro de 68(quatro dias depois) e foi publicada pelo Jornal do Dia, de São Luis, em na edição da quarta feira, 18.

Nela longe de protestar, bajula. Exalta a ditadura militar e bajula os ditadores de plantão em especial o marechal Costa e Silva.“Fui eleito pelo Povo. MEU MANDATO TROUXE A MARCA DA LUTA E SÓ FOI POSSÍVEL GRAÇAS À moralização eleitoral, às garantias surgidas e à liquidação da oligarquia política, OBRA, COMO TANTAS VEZES AFIRMEI, DA REVOLUÇÃO QUE EU APOIEI E POR ELA FUI APOIADO”.

Sarney, capacho da ditadura e dos militares golpistas, continua:

“Compreendo perfeitamente, homem de governo, as dificuldades enfrentadas pelo Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Marechal Artur da Costa e Silva, tendo de romper a ordem jurídica, marchando para o estabelecimento de medidas de exceção que ferem os postulados democráticos (...) Conheço o pensamento das Forças Armadas do Brasil, o seu Patriotismo, creio nos altos propósitos e nos seus permanentes objetivos”.

Como podemos observar, Sarney distorce adredemente não apenas a História como a Língua Portuguesa e tenta passar como protestos suas genuflexões aos generais ditadores.

Um comentário:

Anônimo disse...

Kra, felizmente para o Brasil essa confusão toda no Senado parece estar chegando ao fim, não tem nada de bom que pode sair de uma caça as bruxas como a que vem acontecendo. As coisas tem que ser ponderadas e os problemas atacados pela raíz. Esperemos que o Senado saiba se conduzir durante essa reforma administrativa e talvez até política.